Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
sábado, 28 de fevereiro de 2009
O PERFIL DO VISITANTE DOS MEUS VÍDEOS NO YOUTUBE
LUTA LIVRE
the transport
O blogue traz notícias sobre artes criativas da Áustria e Portugal e reflexões sobre a cultura palestiniana.
BAIRRO CULTURAL EM LISBOA
O caderno ípsilon, na sua edição de ontem, dá um considerável destaque a este trabalho, de onde eu retirei o que se segue (as aspas identificam a total apropriação que fiz do texto de Vítor Belanciano). O Bairro Alto, na expressão do autor, "é a zona da cidade que mais facilmente se poderá assemelhar a um bairro cultural, não só pela quantidade e diversidade de agentes que aqui se localizam, como pelo potencial simbólico que usufrui na cidade, bem como pelos efeitos externos gerados pela conjugação dessas características. Isso foi decisivo para me debruçar sobre este eixo, dedicando atenção ao papel da inovação e da criatividade nas dinâmicas geradas na zona, bem como na sua afirmação competitiva e na sua sustentabilidade, não deixando de lado os conflitos existentes". Entre o Bairro Alto e o Chiado existem sinergias, mas também diferenças, "dois sistemas autónomos: o lado mais nocturno ligado à transgressão, a actividades emergentes, no Bairro Alto, e o lado mais institucional, diurno, no Chiado, onde existe a maior concentração de livrarias do país". A zona está cheia de animação nocturna, artes performativas, moda, antiquários, sector do livro, segmentos da produção audiovisual e mercados alternativos das indústrias criativas.
A ler aqui e aqui.
PÚBLICOS DE CINEMA NO PORTO
Gostei ontem de ler no jornal em papel e agora na internet (aqui) o texto sobre públicos de cinema no Porto (fotografia de Fernando Veludo editada no suplemento ípsilon do Público de ontem).
Retiro o seguinte parágrafo: "no Porto [...] 14 salas em funcionamento, 12 das quais em centros comerciais (oito salas Lusomundo no Dolce Vita do Estádio do Dragão, quatro salas Medeia no Shopping Cidade do Porto, com um anexo no Cine- Estúdio do Teatro do Campo Alegre), e apenas um cinema na Baixa (o Estúdio 111, no Teatro Sá da Bandeira), a passar filmes porno. Dos 21 cinemas activos na cidade em 1978, não há nenhum aberto. O Cineclube do Porto não fechou mas é como se tivesse fechado, o Cineclube do Norte fechou, a Casa das Artes (equipamento que depende da Direcção- Geral das Artes) fechou, a Casa da Animação tem problemas de financiamento, o festival de documentário e novos media Odisseia nas Imagens, lançado pela Capital Europeia da Cultura em 2001, ficou na gaveta de Rui Rio - e continua a não haver Cinemateca".
Mais abaixo, lêem-se expressões como: público a reconstruir no Porto; o Porto tem vários públicos; problema de público no Porto; falta de empreendedorismo cultural; ressaca da Capital Europeia da Cultura; desinteresse da câmara por estas questões; gerações mais novas desligadas da produção artística e do cinema. E duas queixas: há pessoas que trabalham em Lisboa na área do cinema vindas do Porto, que não consegue fixar massa criativa; centralização de estruturas culturais em Lisboa.
CONCENTRAÇÃO DE PROPRIEDADE NA TELEVISÃO EM ESPANHA
4º LUGAR NO CABO PARA A TVI24 NO DIA DA ESTREIA
NUNO AZINHEIRA SOBRE A ESTREIA DA TVI24
TEORIA DA INFORMAÇÃO
Em A Obra Aberta (2009), Umberto Eco fala das poéticas contemporâneas e das suas propostas de reconstrução variável do material ao fruidor. Este tem um campo de probabilidades interpretativas (Eco, 2009: 121). Para perceber melhor a interpretação das poéticas, Eco socorre-se da teoria da informação. Esta (para quem Mauro Wolf prefere a designação de teoria matemática da comunicação) procura calcular a quantidade de informação contida numa determinada mensagem, delimitada pelos conhecimentos que o indivíduo possa ter sobre a credibilidade de uma fonte. A informação é uma quantidade aditiva, em que a quota de novidade depende das expectativas e capacidades do destinatário (Eco, 2009: 122). Eco (2009: 132) também lhe chama acrescentativa, ligada à originalidade e não à probabilidade. Eu acrescento o papel central da notícia: o que é novo, transmitido rapidamente e partilhado, original.
Eco apropria-se dos princípios da termodinâmica [1) a energia aplicada num motor produz trabalho mas há energia que se dissipa sob a forma de calor; 2) o consumo da energia pode conduzir à entropia do sistema, à sua desagregação] para identificar a entropia com o aumento ou redução da informação, típica perspectiva dos teóricos dos anos de 1960 e 1970, quando as ciências sociais se sentiam impelidas a trabalhar com conceitos retirados das ciências naturais ou exactas. Mais interessante é o seu interesse pela teoria matemática para explicar as poéticas contemporâneas, num momento em que a estética conceptual dominava o pensamento criativo e artístico. Dono de uma vasta cultura, Eco é cauteloso no passo seguinte: a entropia é apenas uma medida estatística e a teoria da informação não se interessa pelo significado das poéticas mas tão só pela sua produtividade. Entropia designaria a quantidade de informação, mediria a ordem/desordem segundo a qual uma mensagem é ordenada (Eco, 2009: 128). Segue Norbert Wiener, o investigador da cibernética (máquinas inteligentes), para quem o conteúdo informativo de uma mensagem é dado pelo seu grau de organização.
Mais explícito ainda: a teoria da informação estuda a transmissão das mensagens e considera-as como sistemas organizados com muita abundância de probabilidades fixas, a redundância, garantia da possibilidade da equiprobabilidade, probabilidade de uma ocorrência num ou noutro sentido. Mas não se preocupa com o significado, não faz a ligação entre informação e significado (2009: 133). Parece estranha esta postura em Eco; ele que trabalhou sempre o território do significado parece encantado com esta posição neutra de Wiener. Talvez a página seguinte explique melhor o seu intento: para além do significado, a arte e a palavra poética apresentam-se numa relação nova de sons e conceitos e palavras e frases. Wolf (1987: 102) segue a mesma rota: o código e a teoria da informação são um sistema sintáctivo que não contempla o problema do significado da mensagem. E afirma que entre duas acepções de comunicação - transferência de informação entre dois pólos e transformação de um sistema noutro - a teoria da informação prefere a primeira (Wolf, 1987: 103). A desorganização dentro de um sistema de probabilidades é um acréscimo de informação (Eco, 2009: 135). Num sistema de alta entropia o valor da informação é altíssimo. Mas terá significado? Dúvidas: quanto maior a informação mais difícil a sua comunicação; quanto mais a mensagem comunica de modo mais claro menos informa (Eco, 2009: 138).
À luz da teoria da informação, como funcionam o SMS e o Twitter?
Observação: pela forma como faço as referências aos dois autores, depreende-se que a mensagem segue de muito perto os textos daqueles escritores.
Leituras: Mauro Wolf (1987). Teorias da Comunicação. Lisboa: Presença, 1ª edição
Umberto Eco (2009). A Obra Aberta. Lisboa: Difel, 2ª edição
Sobre a mesma matéria ver aqui, aqui e aqui.
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
FECHO DOS JORNAIS DE PAPEL? NOVAS TENDÊNCIAS NOS MEDIA?
Há que tirar ilações destas preocupações. No mesmo Público (ontem), vinha o relato muito desconfortável de um jornalista despedido do Diário de Notícias, após uma carreira de mais de 30 anos.
Mas o mesmo jornalista António Granado, escreveu recentemente (aqui), cheio de entusiasmo sobre o seu trabalho como docente de jornalismo: "No semestre passado, reservei 25 por cento da nota da cadeira de Produção Jornalística àquilo a que chamei “reputação online”, uma forma de obrigar os alunos a criar blogs, fazer perfis nas redes sociais, guardar links no Delicious, pôr fotografias no Flickr, acrescentar vídeos no Vimeo, com um objectivo final: o seu nome profissional ". A pergunta é: o que está a mudar no jornalismo e nos media? Que tendências se podem apontar?
SIC COMPRA 40% DA SIC NOTÍCIAS
Herdeira de um canal para Lisboa, lançado pela PT, a SIC Notícias foi o primeiro canal de notícias nacional em Portugal. Seguiram-se a RTPN (RTP Notícias) e a TVI24, do grupo concorrente Media Capital, esta lançada ontem. Portugal, com três canais de informação por cabo, parece um caso distinto na Europa comunitária conforme pude ler nos jornais de ontem e de hoje.
O ARRANQUE DA TVI24
Destaquei o aspecto gráfico (cores vivas: branco, vermelho e amarelo), a cortina do fundo mostrando a ponte sobre o Tejo e o Cristo Rei (sentido moderno e cosmopolita), a legitimação do canal dada pela presença do director-geral, José Eduardo Moniz, que destacou a liberdade de informação, o debate civilizado entre dois comentadores (Bagão Félix e Pina Moura), o à vontade do jornalista senior Henrique Garcia. Pareceu-me um muito bom começo: notícias equilibradas e sérias, longe da feição mais populista e tablóide dos noticiários da TVI generalista, no que se pode entender como estrutura de catálogo, com os mesmos materiais a terem um tratamento editorial distinto.
Resta agora saber a evolução e ver o comportamento das audiências nos canais de informação do cabo.
[os primeiros 57 segundos da primeira emissão do noticiário Jornal do Dia, da TVI24, incluindo o genérico]
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
CO-PRODUÇÃO CINEMATOGRÁFICA GALIZA-PORTUGAL
APAGÃO DA TELEVISÃO ANALÓGICA EM ABRIL DE 2012
A resolução tomada hoje em Conselho de Ministros admite, contudo, a permanência do sinal analógico por mais um ano, para minimizar problemas e atrasos. Recordo que, há menos de duas semanas, muitos americanos foram surpreendidos por um apagão do mesmo tipo (não tinham receptores para o novo tipo de sinal e o ecrã dos televisores ficou branco).
Dúvidas sobre a capacidade económica dos portugueses migrarem rapidamente (o exemplo do Reino Unido dá conta de lenta evolução para o novo sistema), o que irá acontecer ao espectro electromagnético dos quatro canais de acesso livre, e a capacidade de atrair mais publicidade em novos canais (hoje entra em actividade o TVI 24, no serviço de cabo), ficam à espera de resposta.
Para ver com mais detalhe, consultar o Público Última Hora.
ANÚNCIO
Não sou responsável pelo anúncio, nem sabia dele, mas acho que "criatividade e interesse pelas indústrias culturais" é excessivo.
OS MEUS LIVROS
IMAGENS DO MINHO
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
O PIOR CEGO É O QUE NÃO QUER OUVIR
A base da sua ideia é que a compra dos jornais foi afectada pela banalização da televisão, pelo desenvolvimento das notícias na rádio, nos canais de satélite e cabo, na internet, nos jornais gratuitos, nos suportes e ecrãs que aparecem quase todos os dias. A indústria dos jornais, diz o jornalista, sabe isso há muito mas a prática é diferente do discurso. As reestruturações não vão conduzir a parte alguma, pois o futuro parece traçado. Os jovens não lêem jornais mas recolhem a informação nesses outros canais acima identificados.
Observação: no dia 16 de Dezembro de 2004, José Vítor Malheiros esteve numa aula minha. Recordo o que ele designava por "16-25, a faixa etária que consome muitos media em geral mas menos jornais". Hoje, tal grupo etário foi alargado. Incluindo os mais velhos, que deixaram de comprar jornais porque a televisão é mais barata e mais atraente (se em regime de infotainment).
OS RELATÓRIOS DOS PROVEDORES DOS TELESPECTADORES E DOS OUVINTES DO SERVIÇO PÚBLICO
Documentos de grande interesse, li fundamentalmente as conclusões e recomendações de ambos.
Assim, para Paquete de Oliveira, a análise da televisão pública distingue-se em duas parcelas importantes: informação e programação. Com realce residual a área da publicidade. No campo da informação, o provedor chama a atenção para a falta de um Livro de Estilo actualizado, as desconfianças de telespectadores sobre as possibilidades de interferências por parte do Governo, o estudo sobre o pluralismo partidário pela ERC em sequência de queixa do grupo parlamentar do Partido Social Democrata, a grande audiência do Telejornal da RTP1 que indica uma boa «imagem de marca» da RTP - e contradiz alguns reparos, como os que estiveram na base das desconfianças e da queixa acima indicadas -, a separação entre comentadores, porta-vozes e representantes partidários, a falta de pluralismo clubístico (leia-se: Benfica, Porto e Sporting), o destaque excessivo dado ao futebol, a falta de cuidado com a língua (falada e escrita). Já no domínio da programação, Paquete de Oliveira indica como principais eixos de análise: cumprimento das obrigações vindas do estatuto de serviço público, articulação entre diversos tipos de cultura (erudita, popular e de massa), grelha de conteúdos e horários de exibição adequados aos segmentos de público a que se destinam, necessidade de mais programas culturais (teatro, dança, música erudita, cinema, pintura, literatura, história) integrados na programação da RTP1, e revitalização dos centros de produção do Porto, Bragança, Castelo Branco, Coimbra, Évora e Faro.
Já o provedor do ouvinte situou como principais as questões, na área da programação, da Antena 2 (ver a seguir), a playlist e o peso do futebol. Na informação, criticou os critérios de alinhamento dos noticiários (e a predominância de acontecimentos relacionados com o mundo do futebol). Nos dois, apontou deficiências de locução e mau uso da língua portuguesa. O provedor deu ênfase a textos públicos como A macdonaldização da Antena 2, do professor universitário e ex-secretário de Estado da Cultura Mário Vieira de Carvalho, e Playlist da Antena 1: uma vergonha nacional, publicado no blogue A nossa Rádio, de Álvaro José Ferreira. Ressaltou as "regulares mensagens sobre os critérios do alinhamento dos noticiários e um bom número de críticas pormenorizadas de ouvintes da Antena 2, criticando não apenas opções mas também o modelo prevalecente na rádio clássica desde a entrada da actual equipa dirigente".
Claro que o ideal é ler os documentos na íntegra e defender a existência de provedores nas outras rádios (Renascença, Comercial, TSF) e televisões (SIC, TVI).
USAGES ET IMPACTS D'INTERNET
Marseille, France - 5 et 6 novembre 2009
Un certain nombre d'études s'appuyant sur des données (quantitatives ou qualitatives) et permettant d'entreprendre des travaux économétriques ont commencé à apparaître pour permettre de tirer quelques enseignements de l'explosion d'internet.
L'AEA (Association d'Econométrie Appliquée) a déjà tenté de faire le point sur le marché des biens culturels à Padoue en 2004, sur l'Économétrie des Médias à Paris en 2007, c'est dans cette lignée qu'elle souhaite inscrire cette manifestation sur les impacts d'Internet.
Vous trouverez, un appel détaillé ci-dessous, mais nous souhaitons insister, outre l'aspect multidisciplinaire, sur deux thèmes qui devraient faire l'objet de sessions spécifiques: le premier est notre désir de faciliter la présentation de travaux en cours ou en projet; ils pourront ainsi être soumis à l'appréciation des chercheurs réunis en cette occasion, voire à leur association le second est la présentation des sources d'information statistiques et en particulier d'enquêtes qui pourraient tenter des chercheurs pour une analyse approfondie.
Deadline des soumissions : 15 juin 2009. Themes:
- Approche critique de l'impact des TIC (sur le diagnostic économique)
- Retombées globales et sectorielles d'Internet (en terme d'efficience, de productivité)
- Analyse des usages et pratiques d'Internet (au travail, à domicile; pour communication bilatérale ou en réseau, pour la recherche d'information)
- Transformation des marchés traditionnels (enseignement; commerce et business; administration publique; médias; jeux)
- Place et développement de nouveaux marchés (transfert de l'immatériel, réussite de nouveaux acteurs)
- Modélisation et développement d'Internet et des TIC (croissance, rentabilité des investissements)
- Impacts sur l'aménagement des territoires et le développement
[voir plus d'informations ici]
terça-feira, 24 de fevereiro de 2009
O CINEMA PORTUGUÊS SEGUNDO FONSECA E COSTA
De uma grande dureza, continuou: "Hoje em dia, ninguém sabe onde está esse património. Não sei se há alguns cartazes na Cinemateca, que é um organismo unipessoal, onde se faz apenas o que apetece ao Sr. Dr. Bénard da Costa e mais nada", afirmou. Bénard da Costa, julgo, estará a recuperar de uma operação cirúrgica, razão que o levou a afastar-se da Cinemateca.
O realizador também se referiu à distribuição, onde existe uma situação de monopólio, "em que os distribuidores são donos de quase todas as salas do país, em manifesto abuso de posição dominante".
Fonte: Público Última Hora
SLUMDOG MILLIONAIRE, O VENCEDOR DOS ÓSCARES
Dois elementos centrais foram esquecidos na argumentação: o filme resulta de uma produção da Film4 e da Celador, duas empresas inglesas, a primeira ligada ao Channel 4 e a segunda com actividade desde 2005 (a Celador desenvolve projectos interessantes, nomeadamente sobre Martin Luther King e os direitos cívicos em 1965 e sobre uma lendária legião romana que desapareceu na Escócia no ano 87 antes de Cristo); o Reino Unido tem uma comunidade indiana forte e a relação entre os dois países é muito forte.
Depois, a história do filme assemelha-se a outras de interesse humano que aparecem com frequência na televisão, a que se alia o facto de o herói se sai sempre bem, mesmo quando tudo indica que vai perder. A relação com a televisão não é a menosprezar: do mesmo modo que o filme mostra grandes audiências a assistir à final do concurso, a realidade na noite dos óscares (ou dia na Índia) foi seguida de multidões em volta do televisor, como retratam as histórias hoje publicadas nos jornais. Afinal, foi uma história de crianças pobres da Índia que ganharam o concurso (no filme) e o óscar (o prémio sobre o filme). A história do filme poderia também ser contada numa novela, como as que o Brasil tão bem sabe fazer, e passar na televisão.
Aliás, a história é um conto de fadas do século XXI na Índia: conta a história de Jamal, um rapazinho órfão de Mumbai (Bombaim) e o seu caminho até ao sucesso no concurso Quem Quer Ser Milionário e o seu desejo de reaver o amor perdido na infância. A Índia que está a crescer na economia mundial é feita de contradições, como aliás o filme mostra: os dois irmãos, já jovens adultos, recordam a triste infância apontando para o local onde viviam, então um enorme agregado de casas de lata e agora um conglomerado de prédios novos e ricos. Os actores do filme vieram dali mesmo, numa associação entre a realidade e a ficção.
Claro que é evidente a aproximação ao cinema indiano, caso dos planos mostrados durante a passagem da ficha técnica no final do filme: a música e a coreografia da dança remetem para aquela cinematografia. A ficha técnica revela igualmente o impressionante número de artistas e técnicos indianos (aliás, o filme foi rodado naquele país do Oriente).
Fixo-me nas frases principais do trailer do filme (acima): "Cada momento da sua vida é a chave para as respostas; cada questão leva-o a estar mais perto do seu verdadeiro amor". Com actores desconhecidos ou pouco conhecidos, Slumdog Millionaire ganhou um prémio no festival internacional de Toronto em 2008 e, agora, o óscar em Los Angeles. O filme estreou em Novembro nos Estados Unidos e em Janeiro no Reino Unido; entre nós, está em recente exibição.
CINECLUBES
O estudo do ICA abrange 19 associações, em que dez delas conquistaram públicos em 2008, caso da Associação Cultural e Recreativa de Tondela (Viseu). Existem 30 cineclubes no país. Fora dos grandes centros urbanos, os cineclubes são uma alternativa ao cinema americano.
BLOGUE
- Mas uma vez criado o MP3 e inventado um protocolo descentralizado de rede como o P2P, que oferece um meio de distribuição extremamente eficaz e com menos pontos de controlo, o monopólio das grandes editoras sobre o direito à cópia começou lentamente a desaparecer.
É claro que as cassetes já permitiam a cópia do original mas na maioria dos casos isso implicava a perda de qualidade áudio e era um processo moroso e dispendioso, pelo que isso nunca constituiu um grande motivo de preocupação. Mesmo no caso dos CDs, a cópia sempre implicava a aquisição de um suporte virgem para a gravação do original. Daí que a situação de confronto tenha chegado ao seu auge por altura do Napster. O ponto mais alto desse conflito deu-se quando os Metallica apresentaram em frente da sede da empresa uma lista de 335 mil utilizadores da rede P2P que eram acusados pela banda de descarregarem ilegalmente a sua música. Aí é que os ânimos se exaltaram e a onda de repúdio contra a indústria musical cresceu a níveis avassaladores.
PAPEL DE PAREDE COMO ECRÃ DE TELEVISÃO
Tal maravilha ainda vai demorar algum tempo a passar da fase de projecto à fase de produção comercial.
Fonte: Telegraph, de ontem
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009
ADORÁVEL CRIATURA
Casa Amarela, Rua da Barreira, em Beja, nos dias 26, 27 e 28 Fevereiro e 5, 6 e 7 de Março, pelas 22:00.
EMPREITEIROS DO CINEMA
Os três realizadores querem que o Instituto do Cinema volte a chamar-se Instituto Português do Cinema, a separação total do cinema face ao audiovisual e regras transparentes e júris competentes para os concursos públicos.
Alguns números associados à crítica que os realizadores fazem aos produtos audiovisuais acima identificados. Primeiro, o financiamento: Fundo de Investimentos para o Cinema e o Audiovisual - FICA/IAPMEI (40%), ZON Lusomundo, dedutíveis nos impostos (30%), RTP (6%), SIC (12%) e TVI (12%). Isto significa 76% de fundos públicos. Segundo, a distribuição das receitas de um êxito que atinja hipoteticamente 200 mil espectadores, perfazendo €900 mil: €540 mil para o exibidor (sala), €180 mil para o distribuidor, €252 mil para o produtor. Logo, longe dos acima de €1500 mil que os autores/empreiteiros do audiovisual apregoam, conclui o texto.
Responsáveis, segundo Alberto Seixas Santos, João Botelho e José Nascimento: os ministros da Cultura (que aceitou um orçamento na Cultura de 0,4%, quando a média europeia é de 1%) e dos Assuntos Parlamentares e o Primeiro-Ministro.
A REORGANIZAÇÃO DA YAHOO
GREVE NOS JORNAIS DA CONTROLINVESTE
QUEBRA NA AUDIÊNCIA DOS JORNAIS
ÓSCARES
domingo, 22 de fevereiro de 2009
QUAL A DIMENSÃO IDEAL DO TEXTO NA INTERNET?
O TRABALHO DOS MEDIA
- Culture creation is quickly becoming the core industrial (and individual) activity in the globally emerging cultural economy. This process gets amplified through the increasing conglomeration of media corporations, as well as the widespread diffusion of information and communication technologies. This paper combines insights from research on (professional and amateur) media production from disciplines as varied as institutional sociology, organizational psychology, cultural economy, management, media studies and economic geography to present a review of trends, developments and values co-determining media work.
A SERVENTIA DO TWITTER
O Twitter é uma ferramenta um pouco hedonista, como é apanágio das redes sociais em geral - servem para nos ligar aos outros, mas também para nos revermos em perfis que se querem apelativos [...] O Twitter tem esse lado microblogging de nos permitir todos os nossos passos mais trepidantes ("Lavei os dentes. A pasta está quase no fim" - há muita coisa deste género que alimenta os mais de três milhões de tweets diários) (Joana Amaral Cardoso, Pública, 22.2.2009).
Ao descrever o Twitter, estarei a aborrecer quer os que conhecem tudo da internet quer os cépticos? Provavelmente. Tentarei ser rápido. É um sítio da internet em que se pode expressar o que se está a fazer em 140 caracteres ou menos e que é enviado aos seus "seguidores"; do mesmo modo os "tweetes" dos que o "seguem" estão a si relacionados - e pode fazê-lo no seu telefone celular, computador portátil, BlackBerry, iThermos ou alarme. [...] A minha única tentativa de ignorar a internet correu mal. Quando estava no grupo de teatro da minha universidade, alguém me disse que eu devia ter um sítio na internet. A minha resposta foi: "não permito isso". Foi como o general Gamelin - o comandante francês em 1940, que não tinha telefone no seu quartel-general e, ao invés, utilizava mensageiros em motorizadas - e também sem muito sucesso [Gamelin seria conhecido como o homem que perdeu a batalha da França contra a Alemanha, no começo da Segunda Guerra Mundial]. [...] Ele [o tweeter] diz coisas como "vai hoje à reunião de produção do Peep Show" ou "Não te esqueças de dizer o que damos ao Robert no seu aniversário" (David Mitchell, The Observer, 22.2.2009, tradução livre minha).
Ao ler atentamente as três citações, vê-se que a segunda é favorável ao Twitter. As outras duas levantam dúvidas, são escritas por cépticos. Começo a pensar como estes dois.
TESSA ROSS
O Observer de hoje dedica-lhe uma página (texto de David Smith). A Film4 é uma conceituada produtora de audiovisual no Reino Unido. Dos filmes feitos na Film4, destaco Trainspotting, Quatro Casamentos e um Funeral, Hunger, de Steve McQueen, Happy-Go-Lucky (Um Dia de Cada Vez), de Mike Leigh, e In Bruges, de Martin McDonagh (que ainda não vi).
O tempo de crise também se abateu sobre a Film4. O Channel 4, de que depende a Film4, teve um pesado corte orçamental, da ordem de 150 milhões de libras (quase o mesmo em euros). Além da crise financeira, a concorrência da tecnologia digital é outro elemento a considerar. O orçamento anual da Film4 é de 10 milhões de libras e 11 colaboradores no total. Se o filme Quem Quer Ser Bilionário ganhar um ou mais óscares, a situação pode melhorar. Se não ganhar, a produtora corre o risco de fechar. A acontecer tal, o audiovisual inglês poderá regressar à má situação vivida nos anos de 1980. O Channel 4 depende do Estado.
Sobre o Channel 4, Tessa Ross elogia o serviço público. E elogia igualmente os realizadores e produtores que com ela trabalham: "O privilégio é gastar dinheiro com pessoas que têm imaginação e profundidade de pensamento e querem experimentar todo o tipo de caminhos".
No vídeo, o trailer de Um Dia de Cada Vez, com Sally Hawkins no papel de Poppy (que me fez lembrar O Destino Fabuloso de Amélie Poulenc e, injustamente, a série Casei com uma Feiticeira).
sábado, 21 de fevereiro de 2009
CRISE NA INDÚSTRIA LIVREIRA
Mas há dados contraditórios. Um estudo de mercado feito pela GKF, e citado na mesma notícia, diz que se venderam 13,7 milhões de livros o ano passado, um aumento de 1% relativamente a 2007, sem contar com os livros escolares e a que correspondem €157 mihões. Por ano, são lançados no país 12 a 14 mil títulos (Associação Portuguesa de Editores e Livreiros), quando em 2005 eram 10 mil (Observatório de Actividades Culturais).
O Público, por seu lado, dá conta da má situação da editora Campo das Letras. Citando Jorge Araújo, que detém 51% das acções da empresa, a editora pode desaparecer até ao final do mês, se não aparecer um investidor com um milhão de euros. Às quebras de vendas juntou-se a falência da ECL (Empresa de Comércio Livre), uma distribuidora de livros. A Campo das Letras tem 17 empregados, 1407 títulos e representa 536 autores portugueses (entre os quais me incluo) e 318 estrangeiros.
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009
SOBRE A RÁDIO
"Um dos grandes fascínios da rádio é levar cada auditor a visualizar tudo aquilo que escuta" [Matos Maia (1995). Telefonia. Mem Martins: Círculo de Leitores, p. 195].
ERC EXCLUI AS DUAS CANDIDATURAS AO 5º CANAL DE TELEVISÃO EM SINAL ABERTO
A candidatura da Telecinco foi excluída devido ao não preenchimento de viabilidade económico-financeiro, a da ZON por falta de meios técnicos e humanos afectos ao projecto, ou seja programação suficiente. Sobre a primeira, diz o ponto 50 da deliberação: "o Estudo de Mercado – é bom tê-lo presente – é elemento indispensável (e de omissão não suprível) para avaliar o cumprimento do requisito de admissibilidade que agora se analisa. Este mesmo ponto é, aliás, sublinhado no Parecer acima referido". Sobre a segunda, no ponto 81, indica: "Seguindo a forma de apresentação determinada no artigo 9.º do Regulamento, a concorrente apresentou um fascículo indecomponível correspondente ao capítulo do Plano Técnico. Este elemento respeita o que é exigido no Caderno de Encargos, sem prejuízo de parecer posterior a cargo do ICP-ANACOM".
O parecer do Plano Económico-Financeiro das candidaturas foi analisado pelo CEGE-UNL (Centro de Estudos de Gestão Empresarial, Universidade Nova de Lisboa). Votaram contra a deliberação dois membros do Conselho Regulador: Luís Gonçalves da Silva e Rui Assis Ferreira.
MULTIDÃO, MASSA, PROPAGANDA E PÚBLICO
Gabriel Tarde (L’Opinion et la foule, 1901) destacou também o efeito hipnótico exercido sobre a multidão. Diz que não se deve confundir público e multidão. Público é de um teatro, de uma assembleia. Multidão tem uma extensão indefinida, tem variedades, há a ausência de relação da multidão com os líderes. Falta, à multidão, o sentido de agregado, há qualquer coisa de animal, de contágio físico. Público é a corrente de opinião; multidão é a sensação do momento.
José Ortega y Gasset (A rebelião das massas, 1937) fala de sociedade de massa. Após a Primeira Guerra Mundial, seguiram-se grandes convulsões políticas na Europa, com ditaduras e regimes ferozes (URSS, Alemanha, Itália), que conduziram à Segunda Guerra Mundial. Acreditava-se haver uma crise no Ocidente, baseada numa subversão geral dos valores morais e culturais. O resultado foi a massificação, enquanto eliminação das características diferenciadoras do homem e dos grupos.
Herbert Blumer (1900-1987) elenca as características de massa: 1) participantes oriundos de todas as profissões e categorias sociais, 2) grupo anónimo (os elementos não se conhecem entre si), 3) pouca interacção ou troca de experiências, 4) organização frágil. Opõe massa a público . Este designa um grupo de pessoas: 1) envolvidas numa questão, 2) divididas em termos dessa opinião, 3) com discussão a respeito de tal problema.
Quanto a massa, Elias Canetti (Massa e poder, ([1960] 1995) diz que ela, se tiver um carácter destrutivo, prefere edifícios e objectos, com atracção por vidros. Há quatro características da massa: 1) quer crescer sempre, 2) no seu interior reina a igualdade, 3) ama a densidade, 4) necessita de uma direcção. Elias Canetti analisa igualmente a malta, palavra que deriva do latim movita e significa movimento. Malta é uma unidade mais antiga do que massa e é uma horda de número reduzido (10-20 homens) e uma forma que assume a excitação colectiva, visível em toda a parte. Trata-se de um conjunto de pessoas que sempre viveram juntas, e que se encontram diariamente, empreendendo a avaliação mútua em actividades conjuntas. Como se constitui apenas de conhecidos, a malta é, num ponto, superior à massa (que pode crescer infinitamente): mesmo quando dispersa por circunstâncias adversas, a malta pode voltar a reunir-se.
Denis McQuail (Teoria da comunicação de massas, 2003) diz que a propaganda é uma tendência deliberada e sistemática de marcar as percepções, manipular as cognições e dirigir o comportamento para obter uma resposta que aumente a intenção desejada do propagandista. Os media são essenciais à propaganda, uma vez que são canais que podem atingir todo o público e têm a vantagem (em sociedades abertas) de serem olhados com confiança.
Alejandro Pizarroso Quintero (História da propaganda, 1993) considera a propaganda como processo de persuasão, que implica a criação, reforço ou modificação da resposta e é um processo de informação quanto ao controlo do fluxo da mesma. Considera que, nos media, a propaganda é um processo de disseminação de ideias por múltiplos canais com a finalidade de promover no grupo ao qual se dirige os objectivos do emissor não necessariamente favoráveis ao receptor.
Uma importante definição pertence a Jürgen Habermas (Mudança estrutural da esfera pública, 1962; 1985) para quem o público deixa de formular meras opiniões e passa a emitir significados rigorosos sobre o que ocorre em seu redor, a esfera pública. Habermas aponta locais de discussão racional e pública, formadores do público, como as livrarias, os cafés, os salões e as reuniões de comensais (jantares).
Para João Pissarra Esteves (A ética da comunicação e os media modernos, 1998), público quer dizer: 1) abertura a novos elementos, 2) abertura a temas, 3) paridade entre todos na argumentação.
Daniel Dayan (Televisão: o quase-público, 2006) defende um sentido muito puro de público, constituído por: 1) um meio, com sociabilidade e estabilidade, 2) tem capacidade de deliberação interna, 3) dispõe de capacidade de performance, 4) apresenta-se perante outros públicos, o que implica os seus autores que defendem valores e traduzem os seus gostos em exigências, 5) existindo apenas sob a forma reflexiva.
Víctor Sampedro (Opinión pública y democracia deliberativa. Medios, sondeos y urnas, 2000) fez o seguinte quadro:
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
FORMAS 2009
LANÇADO LIVRO DE RITA CURVELO
Ainda não li o livro, nem a importante introdução. No seu folhear, apanhei as seguintes frases: "Será que o produto cultural deve ser entendido e vendido da mesma forma que um qualquer bem de consumo? Quem deverá prevalecer na relação entre oferta e procura: o artista ou o público consumidor de artes? Ou os dois? E será ou não o marketing um instrumento fundamental para a vida das instituições culturais? E para que servirá o marketing no contexto cultural"? Projectar e realizar cultura, mas, sobretudo, formar públicos e mantê-los, são algumas ideias que passam pelo texto.
Jorge Wemans, jornalista e director do canal de televisão RTP2, e Filipe Serra, docente universitário, apresentaram o livro. Um e outro falaram do quanto conheciam do trabalho desta profissional da Rádio Renascença (as entrevistas fazem parte do seu trabalho num programa daquela estação de rádio). O livro foi, como disse Filipe Serra, um conjunto de pequenas vitórias para a autora.
Parabéns à Rita. Tenho a certeza que o livro vai ser um estímulo para todos os que querem saber como se processsam a arte, seus circuitos, programação e visibilidade.
HEXA EM ÁGUEDA
LIVRO DE RITA CURVELO
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009
A FORÇA E O DILEMA DO FACEBOOK
Hoje, Mark Zuckerberg informa que o regulamento voltava ao original, dando razão aos que achavam que a rede social estava a violar o direito de cada um de estar ou sair da rede. Num dos parágrafos, ele revela a importância da Facebook: "Mais de 175 milhões de pessoas usam a Facebook. Se fosse um país, seria o sexto país mais populoso do mundo. O nosso regulamento não é apenas um documento que protege os nossos direitos; é o documento que governa o modo como o serviço é usado por todos em todo o mundo. Dada a sua importância, precisamos de reflectir os princípios e os valores das pessoas que utilizam o serviço". Traduzindo a ideia: a Facebook quer que as pessoas partilhem e controlem a sua informação; se elas quiserem deixar de partilhar, desaparecem os rastos.
A força da Facebook e das outras redes sociais é o crescimento que elas estão a ter. Todos os dias, recebo várias propostas de ligações a esta e à rede Twitter, o que significa a expansão que as redes estão a ter. A oportunidade é criar perfis apetecíveis - os que gostam de cinema ou fazem montanhismo ou coleccionam selos são agregados e podem ser úteis em bases de dados, como nas semanas anteriores se anunciou ser o propósito da Facebook.
O dilema é que se colocam problemas novos - de vigilância, de privacidade, de interactividade. A ideia de a Facebook fazer duas cópias de uma mensagem pode ser interessante, pois fica sempre uma memória. Contudo, se eu me zangar com alguém e quiser eliminar tudo o que se relaciona com essa pessoa, não admito que fiquem elementos públicos dessa relação. Não é limpar ninguém da fotografia, como faziam os estalinistas quando alguém caía em desgraça, mas apenas um apagamento.
Apesar de tudo, não acredito na bondade desta medida de Mark Zuckerberg. Um dia, decidi sair da rede Facebook. Fiquei convencido que os meus dados tinham sido apagados. Vários meses depois, voltei a aderir; descobri que todas as ligações (relações) se mantinham. Não começava do zero, recomeçava no ponto de onde me desligara. O que significa que a memória ficou lá. E se eu quisesse mesmo ficar apagado para sempre? Impossível. Entra-se mas já não se sai; fica-se apenas adormecido.
TEORIA HIPODÉRMICA EM DEZ PONTOS
1) O receptor não é passivo. Os cultural studies falam em receptor activo, capaz de (re)construir narrativas, caso das novelas. Os teóricos das redes sociais e da wikipedia falam em trabalho colaborativo, cultura participativa, produtilizador,
2) Pressupõe um quadro de raridade dos media, de emissão de um para muitos, mundo de tecnologia analógica (ver quadro da aula anterior). Na tecnologia digital, com multiplicidade de canais (rádio, televisão), mas especialmente com a capacidade de criar meios (sítios, wikis, blogues, redes sociais), cada utilizador transforma-se em produtor de conteúdos, gerando a rede, o conjunto de interligações,
3) A teoria decorreu num período de aumento de regimes ditatoriais e violentos na Europa, criando território teórico para a aceitação da propaganda e da sua eficácia, quer na Primeira quer na Segunda Guerra Mundial. Os Estados Unidos, a Rússia Soviética e o Japão não escaparam à influência da rádio (Roosevelt, nos Estados Unidos, usou frequentemente a rádio para comunicar com os seus concidadãos; a rádio teve um efeito enorme sobre os americanos para a mobilização na Segunda Guerra Mundial),
4) Havia ainda poucos estudos empíricos. Assumia-se pacificamente a ideia da influência e da persuasão dos media no curto prazo. Na época, o meio tinha um peso fundamental. Mais tarde, McLuhan diria que o meio é a mensagem, numa alusão típica à confluência de significante e significado (para utilizar conceitos da semiótica),
5) Para a Europa, a teoria hipodérmica associava-se à penetração das obras americanas (cinema, música, televisão). Formava-se a ideia de um gosto único, o da comunicação de massa. Nomeadamente o cinema, com a sua criação de estrelas (star system), reflectiu e ampliou a ideia da massa, influência e efeito directo e ilimitado: modos de vida pareciam ir ser assimilados.
6) Isso ocorre também devido à bifurcação de uma actividade: a publicitação de ocorrências. Propaganda (no sentido político) e publicidade (de produtos) cresceram a par. Nascem profissões como a de relações públicas, que fala por uma instituição enquanto porta-voz, em ligação à ideia de marca. Propaganda, publicidade, relações públicas, acções de mediatização e promoção, marca – eis algumas palavras chave da época,
7) Quero realçar o papel da rádio. Ao contrário do jornal, que implica saber ler e dominar conceitos, a linguagem da rádio é mais próxima do ouvinte, mais directa e franca. Além disso, tem um sentido de actualidade e do directo que o jornal não tem. A rádio transmite música e entretenimento, chega a casa do ouvinte sem custo (não há o pagamento de um valor diário como o jornal). Algumas estações começariam a ter uma relação de proximidade, caso das rubricas de discos pedidos. A rádio chegava a todo o lado, pois a cobertura visava ser nacional, sem as dificuldades da distribuição da imprensa (viaturas, postos de recepção dos jornais, venda, remessa dos jornais não vendidos, pagamento dos exemplares vendidos, o que complexificava as operações na perspectiva contabilística),
8) A teoria hipodérmica, apesar dos reflexos na Europa, é uma “invenção” americana. Os Estados Unidos são o país dominante antes e depois da Segunda Guerra Mundial, há uma grande autoconfiança nas suas estruturas políticas, económicas e culturais. As indústrias dos discos, do cinema e da rádio (e depois a televisão e a internet) têm um enorme desenvolvimento nos Estados Unidos – tecnológico, cultural e económico. A confiança do consumo – vender internamente e esportar para o mundo – valoriza a ideia de massa e de influência e persuasão,
9) Com vantagem, a teoria hipodérmica é a primeira teorização sobre comunicação de massa. Ela marcou de modo indelével a análise que fazemos sobre os media. Se quisermos, ela tem igual (ou mais) peso que a semiótica, a teoria crítica e a escola dos cultural studies. Resta comparar o impacto dela face à teoria optimista e utópica dos defensores das redes (internet, redes sociais, telemóveis), que, de certo modo, retomam a ideia de influência, mas agora associados à dispersão, à globalização, ao indivíduo e ao gozo pessoal, à escolha múltipla e à juventude,
10) Retomando ideias anteriores, a teoria hipodérmica tem significado cultural, económico e técnico. Técnico, porque assiste a inovações e aplicações tecnológicas de grande impacto (cinema, rádio). Económica, porque cria fileiras de actividades e de empresas, no que hoje designamos por indústrias culturais. E culturais, por via disso, porque a massificação cria valores, gostos, consumos que, sem homogeneizar e harmonizar totalmente o mundo, torna identificáveis os objectos do mundo: Coca-Cola, McDonalds, o presidente americano, os Jogos Olímpicos, o futebol. Por isso, cria hábitos, horários e períodos: festival de Cannes, de Bayreuth, globos de ouro, campeonato mundial de futebol. Massa e cultura interligam-se desde essa teoria.
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
CURSO DE GESTÃO CULTURAL
Os módulos são: 1) Cultura, Desenvolvimento e Políticas Culturais, 2) Cidades e Cultura, 3) Programação e Consumos Culturais, 4) Estratégias de Programação Cultural, 5) Património e Desenvolvimento Cultural, 6) Mediação Cultural, 7) Especificidades do Enquadramento Jurídico do Sector Cultural, 8) Gestão de Equipas em Projectos Culturais, 9) Turismo e Cultura, 10) Comunicação Cultural, 11) Gestão de Projectos Culturais, 12) Financiamento de Projectos Culturais, 13) Enquadramento Internacional do Sector Cultural, 14) Visita de Estudo a Barcelona (opcional). O curso inclui ainda avaliação de Projectos e Políticas Culturais, estudo de caso (um município) e conferências. O coordenador do curso é Vítor Martelo e os monitores têm um excelente perfil.
Local: Núcleo Empresarial Nova Almada Velha, Rua da Judiaria, 14, sala 7, Almada
TEATRO MARIA MATOS
A peça Transacções estará em cena de 12 de Março a 3 de Maio, no Teatro Maria Matos. Adaptação do texto original de David Williamson, Up for Grabs, é uma encenação de João Reis, com Catarina Furtado como protagonista no papel de Loren. Conta ainda com as interpretações de António Durães, Carlos Gomes, Joaquim Horta, Lígia Roque, Mafalda Vilhena e Marta Furtado.
Transacções centra-se em Loren, uma marchand de arte que faz de tudo para conseguir vender um quadro de Pollock.
TEATRO ABERTO
REVISTA COMEMORATIVA DOS 90 ANOS DO TRATADO DE VERSALHES
O lançamento da publicação será no próximo dia 19 de Fevereiro, pelas 19:00, no Museu da Presidência da República (Palácio de Belém, Praça de Afonso de Albuquerque, Lisboa).
[tropas portuguesas na Flandres, fotografia pertencente ao Museu de Angra do Heroísmo]
JUAN MUÑOZ
No Museu de Serralves (Porto), está a chegar ao fim a exposição de Juan Muñoz. Ficam aqui três momentos da obra de Muñoz, empregando materiais como o poliester e a resina. Juan Muñoz nasceu em Madrid, em 1953, e morreu em Ibiza, em 2001.
Comissário: Sheena Wagstaff. Co-produção: Exposição co-produzida pela Tate Modern, Londres, e a Sociedade Nacional para a Acção Cultural no Exterior – SEACEX, em associação com o Museu de Arte Contemporânea de Serralves.
PORTO - TEMPOS DE HOJE
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009
SLUMDOG BILLIONAIRE
A CIDADE DOS QUE PARTEM
Chegadas e partidas são um dos fios condutores da peça. Esta começa com os actores a actuarem no centro da sala, em que um dos elementos do grupo vai deixar a aldeia em busca de um melhor futuro na cidade. A despedida é dolorosa, a chegada complicada, mas eis que Carlos Anunciação está no Porto, a cidade almejada, onde vai trabalhar na oficina de automóveis do tio Zeferino. Cruza-se com a guia turística, o presidente da Câmara e a jornalista que não pode fazer perguntas para além do estipulado previamente, o empresário que quer fazer a "Cidade da Felicidade" e o músico. Ele aprende a profissão de mecânico e à noite toca o seu saxofone numa banda de cave.
Na peça cruzam-se influências do teatro musical, do musical americano (por exemplo, Gene Kelly em Serenata à Chuva, 1952), da pop britânica, num cenário virtual bem adaptado ao cenário real de três níveis (que representam ruas, espaços, distâncias). Recordo o diálogo entre dois prédios, em que um se desfaz perante o olhar incrédulo de Carlos, o mecânico músico, já integrado em cenário real. Não é um teatro sério mas leve, parece recuperar tradições de teatro popular, de bairro e de proximidade. Por vezes, os actores cantam em playback, numa mistura de vida e fantasia. A Cidade dos que Partem é um musical que não é um musical, como dizem os autores, mas em que a música representa uma posição central - a peça é uma espécie de musical sobre o Porto. Os oito autores de música original indiciam a importância dada na revelação de valores dos que se mantêm no Porto. O contraluz ou silhueta em que aparece a banda a tocar produz um forte efeito visual, onde se misturam significados de underground suburbano mas também lembrando o festival da canção, pela posição da cantoras.
É patente o esforço de modernidade no guarda-roupa, das cenas iniciais de tradição rural aos turistas em forma de lego que seguem a guia, caricatura do turismo de massa dos nossos dias, ou do vestuário com recurso ao nariz de carnaval e chapéu, gabardina e botas de borracha, um estereótipo da homogeneidade da população urbana. A oposição entre aldeia e cidade é visível mas ambivalente, entre as raízes rurais do guarda-roupa da cena inicial e da música que a acompanha e a promessa do herói se corresponder com a namorada não por carta mas pelo Messenger.
A peça é uma crítica: os actores riem-se deles mesmos, mas igualmente do presidente da Câmara do Porto, dos governantes e dos governados. Daí, as referências constantes ao nevoeiro que paira na cidade, às tripas como prato do Porto (que deram a carne aos lisboetas - leitura do desequilíbrio na relação entre as cidades), aos princípios. O riso também se pode ler como desencanto. A cidade vê chegar gente mas também vê partir gente, em busca de melhores condições de trabalho. A saída dos músicos para a capital é um sinal dessa transferência.
O Teatro da Palmilha Dentada, que um dia critiquei duramente aqui no blogue e noutro dia comparei-os com A Voz dos Ridículos, começou a actividade em 2001 e existe legalmente desde Agosto de 2003. Com sede no Porto, tem espectáculos como Os Piratas do Fio d'Água (2001), As Noites Nocturnas de um Par de Dois (2002/2003), Palmilha News (2003/2004), O Manifesto de Amélia (2006), Bucket (2008). Ricardo Alves, Rodrigo Santos e Ivo Bastos são o núcleo fundador.
Diz Ricardo Alves: "Interessa-nos muito mais inquietar e provocar quem está adormecido do que estar a desmontar ou a demolir os esquemas de alguns agentes políticos, que por si só não nos incomodam nada. A apatia incomoda-nos muito mais. Os níveis de cidadania em Portugal são vergonhosos. Nada nos mobiliza, estamos completamente apáticos, não queremos saber de nada. E olhando para a cidade [do Porto] o que é que vemos? Está tudo à espera que alguém faça alguma coisa".
CONTEÚDO GRATUITO OU PAGO
Mas a questão é mais complexa, como se lê nos argumentos do jornal brasileiro Folha de São Paulo na edição de ontem. Afinal, os jornais pagos não estão perto do fim, como apregoam os blogues e outros meios online. O "movimento" a favor dos jornais em papel diz que o que está a chegar ao fim é o modelo do acesso gratuito às versões online dos jornais (americanos, e outros). O que vai acontecer será, com certeza, um pagamento dentro do modelo usado pela Apple na loja iTunes, em que cada música custa 99 cêntimos. Ou o pagamento de um serviço premium, com oferta de pacote gratuito básico. No modelo presente, se todos continuarem a não pagar, ninguém vai receber nada, porque não haverá dinheiro para continuar a produzir o noticiário. Um blogueiro não vai cobrir o Iraque ou outro sítio qualquer, porque não dispõe de dinheiro para a deslocação e a presença, por exemplo.
Observação: da última vez que fui a uma loja de electrodomésticos e produtos electrónicos de consumo reparei que os gira-discos voltaram às prateleiras. Pensava-se que o CD destronara o disco de vinil. Porque o regresso?
[obrigado ao "correspondente" do Indústrias em Brasília, Fernando Paulino, pela dica]
VISITAS GUIADAS A IGREJAS
O Centro Cultural do Patriarcado de Lisboa realiza, no próximo dia 7 de Março, a 5ª edição de Itinerários Temáticos, agora dedicados às sacristias das igrejas de Lisboa. Com início no Mosteiro de São Vicente de Fora, o itinerário terá a duração de um dia e inclui duas conferências, visita guiada, almoço e três itinerários a igrejas de Lisboa (Santo-Antão-o-Velho, Sé Catedral, Santa Catarina).
domingo, 15 de fevereiro de 2009
A QUESTÃO DOS DESPEDIMENTOS NOS JORNAIS DA CONTROLINVESTE
sábado, 14 de fevereiro de 2009
REDES SOCIAIS COMO DESTAQUE DO DIÁRIO DE NOTÍCIAS DE HOJE
CELEBRIDADES NAS REVISTAS COR-DE-ROSA
NOTAS SOBRE INDÚSTRIAS CRIATIVAS
- No nosso país, diversos municípios estão actualmente a desenvolver as suas economias locais e regionais através da dinamização e da animação cultural (Jorge Cerveira Pinto, Público de hoje).
Jorge Cerveira Pinto escreve que o sector cultural e criativo - que integra artistas independentes, PME e multinacionais - representava 3,4% do comércio mundial em 2005. Na Europa, as indústrias criativas crescem a uma taxa anual de 12,3%. Em Portugal, o sector criativo já é o terceiro maior contribuinte para o PIB nacional.
No passado dia 5, o antigo ministro da cultura, Manuel Maria Carrilho, discordava (ver a minha nota aqui) da inclusão de sectores como a televisão ou a publicidade na produção cultural, o que significava um valor mais elevado e poderia distorcer a dimensão do mercado. O tema era indústrias culturais. O que escreve Jorge Cerveira Pinto é sobre indústrias criativas.
Neste momento, penso que é tempo de recentrar a conceptualização: apesar da importância das indústrias criativas, este conceito tem tanta conotação ideológica como indústria cultural. Se esta tem a marca de Adorno e Horkheimer, aquelas identificam-se com a tomada de posição política do New Labour inglês e que levou este partido e Tony Blair ao poder. Tão perigoso é pensar na bondade dos conceitos como pretender que as iniciativas dos municípios na dinamização e animação cultural são puras e não incluem a vontade de continuidade político-partidária à frente desses municípios (bandeira da cultura como elemento de propaganda). Apurar a realidade das finanças das autarquias (certamente exangues em muitas situações) e fazer o balanço das actividades regulares (assistência e formação de públicos) torna-se evidente para perceber se não irá ocorrer um colapso à medida que a crise económica se acentuar. Além de distinguir entre níveis de produção internacional e nacional nos consumos.
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
REGRESSO DE JORGE RODRIGUES À RÁDIO
As emissões de CSB.Rádio encontram-se ainda em fase experimental, estando prevista para breve a instalação de novo emissor de modo a chegar a locais ainda não cobertos.
[fontes: blogues A Nossa Rádio (Álvaro José Ferreira) e Europa Viva]
ARQUITECTURA EM PALCO
O debate do dia 16 (18:00) tem como tema A cena na arquitectura, moderado por Jorge Figueira (Universidade de Coimbra) e com intervenções dos arquitectos Ana Tostões, João Luís Carrilho da Graça, Manuel Aires Mateus e Manuel Graça Dias. Dia 19, no mesmo horário, António Pedro Pita modera o debate intitulado Cidade, arte e arquitectura, com os artistas plásticos António Olaio, Gabriela Vaz-Pinheiro, Fernanda Fragateiro, Didier Fiúza Faustino e Pedro Tudela.
AINDA A MINISSÉRIE SOBRE SALAZAR
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
PROGRAMA DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA DA GULBENKIAN
O Programa Gulbenkian Criatividade e Criação Artística é um livro agora editado pela Fundação Calouste Gulbenkian, a ser lançado no dia 18 de Fevereiro pelas 18:30 no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão. O livro cobre actividades de Janeiro de 2004 a Dezembro de 2008: realização de documentários, encenação de ópera, encenação de teatro, coreografia, realização de cinema, fotografia, argumento para cinema, cinema de animação 3D, artes visuais, artes de performance interdisciplinares e tecnológicas e videoarte.
Dizem os coordenadores do programa António Pinto Ribeiro e Catarina Vaz Pinto sobre os objectivos que levaram a Gulbenkian a avançar com o programa de Criatividade e Criação Artística: ausência generalizada de tradição no país da criação artística de autor, ausência e fragilidade das escolas de formação artística, falta de contexto de internacionalização, dificuldade de integração nos circuitos internacionais com as suas obras e discursos, dificuldade em legitimar a criação portuguesa nos fóruns internacionais, pertinência no ensaio de novos modos de incentivo à criação, produção e circulação de obras de artistas nacionais.
O programa foi possível tendo como orçamento anual a verba de 400 mil euros (que subiu para 450 mil a partir de 2006). As actividades decorreram no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (Lisboa) e no Ar.Co (Almada, com o curso de artes visuais). Nalguns casos, criaram-se estratégias de follow up e de making of. Em termos de sequência, o INDIELISBOA 2006 criou uma sessão especial com o programa da Gulbenkian, incluindo três documentários e quatro filmes. Houve filmes feitos em colaboração com várias instituições universitárias e escolas profissionais de Portugal e de outros países. Os públicos receptores das formações tinham idades entre 22 e 35 anos (seleccionados de 1550 candidatos). No conjunto dos cursos produziram-se 166 obras.