domingo, 18 de setembro de 2016

Ontem, fui ao concerto dos Beatles

O filme The Beatles: Eight Days a Week - The Touring Years (2016), de Ron Howard, recolhe elementos sobre 250 concertos da banda de Liverpool entre 1963 e 1966, como músicas, entrevistas e histórias dos quatro músicos. Outro dado: de 1962 a 1966, atuaram 815 vezes em quinze países e 90 cidades.

Admirador da banda, embora com um gosto adormecido nos últimos anos, pude compreender as histórias, os sucessos e as dificuldades, o lado criativo dos músicos nascidos na primeira metade da década de 1940 em meios de classe trabalhadora inglesa, a sofrer os efeitos da II Guerra Mundial. A exaustão da vida dos músicos é a origem da canção Help - ensaios de manhã no estúdio, sessões fotográficas ao começo da tarde, concerto à tarde na televisão e atuação num clube noturno à noite ou 25 concertos em 30 dias na primeira visita aos Estados Unidos ou ainda o boicote naquele país quando Lennon declarou que os Beatles eram mais populares que Jesus Cristo. Isto provocou medo na banda e um pedido de desculpas do músico.

Num dos depoimentos, um historiador da música compara, em termos de melodias, a criatividade dos Beatles, nomeadamente a dupla Lennon/McCartney, a Schubert e a Mozart. Dos Beatles, teriam ficado mais de 400 canções. Noutro depoimento, reflete-se a viragem dos primeiros álbuns com letras viradas para "eu amo-te, tu amas-me" para líricas mais sociológicas, fruto do amadurecimento dos músicos. Mas sempre uma grande energia e uma atualização, que se pode ver nos estilos de vestuário e códigos de conduta e em alguma afirmação política, como quando decidiram tocar num estádio no sul dos Estados Unidos para negros e brancos, sem segregação, numa altura em que os negros lutavam pelos seus direitos cívicos.

No final, após a ficha técnica, em cópia restaurada, viu-se um magnífico concerto em estádio de Nova Iorque em 1965. Como a banda nunca veio a Portugal, só agora nós temos possibilidades de os ver ao vivo. No concerto, que reuniu quase 57 mil espectadores, a banda saiu de automóvel de dentro do estádio para fugir ao contacto com os fãs, que gritavam, choravam e desmaiavam. A polícia nunca vira uma multidão tão entusiasmada e descontrolada. Os músicos não conseguiam ouvir o que tocavam, dado o ruído em volta. Apenas os automatismos de muitas horas em conjunto permitiram que a banda tocasse afinada.


Nota: amanhã, 19 de setembro de 2016, na sessão das 21:30 do cinema Monumental (Lisboa), Luís Pinheiro de Almeida e Teresa Lage, autores do livro Beatles em Portugal, falarão sobre o filme.

1 comentário:

Rui Luís Lima disse...

Recordo-me que o primeiro álbum que tive foi o "Beatles VI", ainda era criança, e tornei-me fan da banda, depois vi o filme de Richard Lester "A Hard Day's Night", que adorei, mas no dia em que me emprestaram um álbum dos Beatles ao vivo, penso que era um espectáculo no Hollywood Bowl, percebi que a banda de Liverpool ao vivo quase não se ouvia devido aos gritos dos fans que enchiam o recinto e mais tarde na televisão ainda vi melhor a loucura que eram as actuações da mais célebre banda da música popular.